quarta-feira, 4 de março de 2009

Suma Teológica - Um portento

A sensação de ler S. Tomás hoje (S.Th, Q. 90 a 97) é maravilhosa, é como fazer sinfonia de uma partitura de gregoriano, preenchê-la com o que o tempo nos trouxe.
Aí se encontram as bases da sociedade aberta, mutável nas suas circunstâncias e evolutiva por ensaio e erro.
Aí estão as bases da paz social, que não altera o costume por dar cá aquela palha, antes respeita o que a comunidade cumpre com gosto e bem-estar.
Aí está o princípio de que não há perfeição nem nos homens nem nas sociedades e que é um abuso do Estado ir além do que possibilite a tranquilidade pública.
Aí está, mais do que tudo, a raiz da lei, que não está no Homem mas é-lhe anterior e superior.
Às vezes pergunto-me se esta mediania (que já Tocqueville previa para as democracias a meados do séc. XIX) não se deverá à ausência do padrão de lei anterior e superior. É que, quando esse padrão é assumido, as atitudes que gera são de um tipo que escasseia nos nossos dias: a obediência, o respeito, o sentido do dever.
Quando o Homem se torna "medida de si mesmo" acaba por obedecer apenas aos seus caprichos, respeitar apenas os seus desejos, ignorar os seus deveres, enaltecer os seus direitos e abalroar os dos outros.
Na realidade, o que me parece faltar à nossa sociedade é mesmo a educação para os valores, que são o que dá o sentido da dignidade da pessoa, da alteridade, do respeito e da verdadeira solidariedade.


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